A saúde não tem preço, mas tem custos

Recente publicação sobre os investimentos na área da saúde pela conceituada Revista Forbes, mundialmente conhecida pelo cunho financeiro de suas reportagens, traz à tona algumas reflexões.

A referida reportagem descreve os gastos na Saúde em 13 países de alta renda (Austrália, Canadá, Dinamarca, França, Alemanha, Japão, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Suécia, Suíça, Reino Unido, e os Estados Unidos). A pesquisa realizada pela Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCED) permitiu comparar o desempenho dos sistemas de saúde e identificar fatores que podem impedir ou acelerar um melhor investimento neste setor.

Alguns dados chamam a atenção, como por exemplo a média de gasto anual por habitante que foi de U$D 2.600,00, cinco vezes maior que o gasto em nosso País que registrou US$ 512,00, conforme dados da OMS. Nos Estados Unidos esse gasto foi de U$D 4.197,00, uma dos maiores entre os 13 países pesquisados. Entretanto, isso não se refletiu nos melhores indicadores de sáude da população, uma vez que os americanos tiveram os piores indicadores. A expectativa de vida nos EUA é de 78 anos, enquanto na Suíça foi 83. O percentual de obesidade na população americana chegou a 35,3%, enquanto que na Noruega, apenas 10%.

O alto investimento dos Estados Unidos também está na contra-mão quando os dados se referem às consultas médicas. Os americanos visitaram seus médicos em média quatro vezes ao ano, o que corresponde a metade dos canadenses (7,9 vezes ao ano) e um terço dos japoneses (12,9 vezes ao ano). E apensar das poucas consultas, eles realizam mais procedimentos e utilizam mais medicamentos.

Os dados contudentes refletem que o investimento em saúde é absolutamnete necessário, porém, os resultados não estão diretamente relacionados ao valor investido. Por isso, os  investimentos devem ser alocados de forma coerente com os princípios primordiais da Medicina. Este assunto foi bem retratado no artigo publicado nesse jornal no dia 10 de outubro, escrito pelo Dr. Alerte Martins de Jesus, sobre a judicialização e saúde, trazendo à reflexão que a utilização de novas tecnologias em saúde devem ser pautadas por avalições técnicas e não simplesmente por demadas judiciais, pois o valor da saúde é intangível e os seus custos podem comprometer a capacidade de investimentos de forma ordeira.

Citando um exemplo atual dessa reflexão, está prestes a ser liberado em nosso País um tratamento para Fibrose Pulmonar Idiopática (FPI), doença respiratória rara e progressiva e até então sem tratamento que pudesse aliviar a evolução do quadro. Entretanto dezenas de outras doenças respiratórias mimetizam a FPI, e não são responsivas ao novo tratamento. A falta de critério qualificado para utlização desse medicamento acarretará a liberação da utilização por meio de medidas judiciais, o que certamente terá um custo muito alto. É necessário que a utilização de novas drogas sejam feitas por câmaras técnicas, para que possam além de garantir a medicação aos pacientes necessitados, proteger aqueles pacientes quando não existe a comprovação científica do efeito benéfico, respeitando um dos mandamentos primordiais da Medicina, primum non nocere.

Dessa forma, parafrasiando Alexandre Pinto Cardoso, professor e ex-reitor da UFRJ, a saúde e a qualidade de vida das pessoas não tem preço, mas tem custos, pagos por todos nós.

15/10/2015 – pagina 7 O popular
Dr Marcelo Rabahi